domingo, 26 de julho de 2015

O amor, o vulcão e o rio

Bazille, Frederic - La Toilette - 1869/70


Amar é como explodir por dentro
fazer do coração um vulcão em permanente erupção
e da razão um risco efêmero na crista mansa de uma curva de rio  
Rodoux Faugh

segunda-feira, 20 de julho de 2015


Goya, Francisco - Two Old Men - 1821-1823


“... quisera libertar o estado de suas amarras e tentáculos paralisantes, asfixiantes... mas os íncubos – enquanto bradavam por liberdade e transparência – tratavam, na verdade, de aprisioná-lo com cordas e tirantes de aço... “
Rodoux Faugh

segunda-feira, 13 de julho de 2015

O único cadinho de Deus que nos é permitido tocar


Quem, senão Deus, teria o dom da criação?
Quem, senão Deus, teria recebido a santa graça
de fazer romper das trevas a luz?
de fazer brotar na matéria bruta a alma e o espírito que anima
e movimenta
e dá curso, sentido, harmonia ao gesto?
Quem, senão Deus, seria capaz de abraçar sem constranger
abrigar sem algo cobrar
aconchegar sem o quê do desdenhar
doar sem a fração vil do trocar
estimular, elevar, orientar, corrigir
assim naturalmente, bem naturalmente
como se estivesse a respirar, cantarolar?
Responda caso exista na terra quem guarde a chave do segredo-mater
Quem, senão Deus, seria capaz de insinuar o rasante sereno, frágil e
sublime da borboleta-azul
mas ousar o vôo soberano, impetuoso e virtuoso da águia-real?
Seria a mãe-do-sol?
A mãe-do rio talvez...
Ou seria a mãe-do-ouro, a senhora reluzente que
guarda todas as minas do precioso torrão dourado?
Poderia ser a mãe-do-fogo, a alva tora de madeira que guarda diligente
a chama por dias a fio?
Investigo e não encontro quem – à semelhança de Deus – teria o
poder de sussurrar ‘fiat lux’
dobrando a escuridão numa via larga que irradia clara claridade
Então recorro à mãe-da-mata, à mãe-da-lua
à mãe-da-taoca, à mãe-de-anhã
à mãe-de-aratu, à mãe-de-tamaru
Inquiro à mãe-de-balata, à mãe-da-tora
Do infinito, responde um silêncio denso... chego a pressenti-lo
sim, consigo tocá-lo
Então me quieto num esforço quase insano para escutar o coração
E ele bate, e rebate, e repica num frenesi afoito
e ressoa intensamente, se impacienta, clama e ser arvora no direito de responder
E o faz também inquirindo
Quem exala, com intensidade, carinho
e dissemina, com grandeza, perdão
e semeia, com graça-divina, amor
senão a mãe que origina e amamenta
sustenta, educa e, educando, germina o planeta?
Quem?, senão a mãe que acompanha
e edifica
nascida para ungir o mundo de centelhas e luzes, como nas infindáveis
erupções solares?
Sim, a fonte originária, a fonte primeira
A santa-madre
a mulher-deusa
a única capaz de avançar no paraíso
para de lá extrair rebentos, filhos, fachos de vida
Mãe: eis aqui a nossa resposta!
Porque mãe é o único cadinho de Deus que nos é permitido tocar.

Rodoux Faugh

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Morte?


Qual morte? Desfecho e desenlace?

Que heresia bradas?
Se algo está para findar
Se o instante é de expirar, perecer,
fechar os olhos a alguém num ultimo e gélido suspiro
Então me sublevo, é um direito que me reservo
E me levanto para dizer não à agonia do crepúsculo, de qualquer crepúsculo
Porque é de existência que se trata
não de perda, jamais de partida
Se algo está para findar e desaparecer
para expirar e se acabar
É nada além de tua estultice lívida, de tua plúmbea insensatez
Porque é de existência que se trata
Sopro de vida, aurora, aura de luz
Fios e mais fios de branda e doce esperança
lânguida como o pulsar de um coração apaixonado
Jamais serás capaz de perceber o palpitar da terra
o respirar das árvores
o nascer e renascer diuturno dos céus e dos ares
A vida jamais se esgota, sequer se engana – eu sei!
O que parece morte é como a vida renascida rompendo o fértil ventre materno
A noite não passa de sutil cortina a abrigar a cândida sonolência dos infinitos raios de sol
Os mesmos que daqui a pouco vão explodir em luz, conformando o novo dia, a nova
era, os novos homens...
 
Rodoux Faugh