Amar é como explodir por dentro fazer do coração um vulcão em permanente erupção e da razão um risco efêmero na crista mansa de uma curva de rio Rodoux Faugh
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Goya, Francisco - Two Old Men - 1821-1823
“... quisera libertar o estado de suas amarras e tentáculos paralisantes, asfixiantes... mas os íncubos – enquanto bradavam por liberdade e transparência – tratavam, na verdade, de aprisioná-lo com cordas e tirantes de aço... “ Rodoux Faugh
Quem, senão Deus, teria o dom da criação? Quem, senão Deus, teria recebido a santa graça de fazer romper das trevas a luz? de fazer brotar na matéria bruta a alma e o espírito que anima e movimenta e dá curso, sentido, harmonia ao gesto? Quem, senão Deus, seria capaz de abraçar sem constranger abrigar sem algo cobrar aconchegar sem o quê do desdenhar doar sem a fração vil do trocar estimular, elevar, orientar, corrigir assim naturalmente, bem naturalmente como se estivesse a respirar, cantarolar? Responda caso exista na terra quem guarde a chave do segredo-mater Quem, senão Deus, seria capaz de insinuar o rasante sereno, frágil e sublime da borboleta-azul mas ousar o vôo soberano, impetuoso e virtuoso da águia-real? Seria a mãe-do-sol? A mãe-do rio talvez... Ou seria a mãe-do-ouro, a senhora reluzente que guarda todas as minas do precioso torrão dourado? Poderia ser a mãe-do-fogo, a alva tora de madeira que guarda diligente a chama por dias a fio? Investigo e não encontro quem – à semelhança de Deus – teria o poder de sussurrar ‘fiat lux’ dobrando a escuridão numa via larga que irradia clara claridade Então recorro à mãe-da-mata, à mãe-da-lua à mãe-da-taoca, à mãe-de-anhã à mãe-de-aratu, à mãe-de-tamaru Inquiro à mãe-de-balata, à mãe-da-tora Do infinito, responde um silêncio denso... chego a pressenti-lo sim, consigo tocá-lo Então me quieto num esforço quase insano para escutar o coração E ele bate, e rebate, e repica num frenesi afoito e ressoa intensamente, se impacienta, clama e ser arvora no direito de responder E o faz também inquirindo Quem exala, com intensidade, carinho e dissemina, com grandeza, perdão e semeia, com graça-divina, amor senão a mãe que origina e amamenta sustenta, educa e, educando, germina o planeta? Quem?, senão a mãe que acompanha e edifica nascida para ungir o mundo de centelhas e luzes, como nas infindáveis erupções solares? Sim, a fonte originária, a fonte primeira A santa-madre a mulher-deusa a única capaz de avançar no paraíso para de lá extrair rebentos, filhos, fachos de vida Mãe: eis aqui a nossa resposta! Porque mãe é o único cadinho de Deus que nos é permitido tocar.
Qual morte? Desfecho e desenlace? Que heresia bradas? Se algo está para findar Se o instante é de expirar, perecer, fechar os olhos a alguém num ultimo e gélido suspiro Então me sublevo, é um direito que me reservo E me levanto para dizer não à agonia do crepúsculo, de qualquer crepúsculo Porque é de existência que se trata não de perda, jamais de partida Se algo está para findar e desaparecer para expirar e se acabar É nada além de tua estultice lívida, de tua plúmbea insensatez Porque é de existência que se trata Sopro de vida, aurora, aura de luz Fios e mais fios de branda e doce esperança lânguida como o pulsar de um coração apaixonado Jamais serás capaz de perceber o palpitar da terra o respirar das árvores o nascer e renascer diuturno dos céus e dos ares A vida jamais se esgota, sequer se engana – eu sei! O que parece morte é como a vida renascida rompendo o fértil ventre materno A noite não passa de sutil cortina a abrigar a cândida sonolência dos infinitos raios de sol Os mesmos que daqui a pouco vão explodir em luz, conformando o novo dia, a nova era, os novos homens... Rodoux Faugh